Iniciação à Vida Cristã - IVC


Nas comunidades antigas a missão de iniciar na fé cabia à interação entre liturgia e catequese. Ambas andavam unidas no processo da Iniciação cristã, com o objetivo da imersão no mistério de Cristo e da Igreja. Tudo acontecia num clima mistagógico: de espiritualidade, de oração, de celebrações e ritos. A partir do séc. V, aconteceu progressiva separação da liturgia e da catequese, com o surgimento da cristandade e suas consequências. Mais tarde apareceu o caráter doutrinal dos catecismos, provocados pelo Concílio de Trento e que orientaram a catequese até o Vaticano II.

O Concílio impulsionou uma revisão teológica e pastoral da iniciação cristã, apontando ao resgate adaptado do espírito catecumenal. A IVC não pode consistir numa pastoral a mais, mas o eixo central e unificador de toda ação evangelizadora e pastoral. Ela pode ser definida como um caminho progressivo, por meio de etapas, de ritos e de ensinamentos que visam transformação religiosa e social do iniciado: mudança existencial, de identidade e compromisso. O mergulho no mistério de Deus, que chega à plenitude em Jesus Cristo e insere na comunidade eclesial, orienta todo processo iniciático. A IVC traz vida nova, com participação na natureza divina. Realiza a unidade da obra trinitária: no Batismo assumimos a condição de filhos do Pai. O batizado é chamado: neófito (planta nova); a Crisma nos unge e fortifica com o dom do Espírito; a Eucaristia nos alimenta com o próprio Cristo, o Filho. A IVC proporciona a incorporação na dinâmica do mistério pascal de Cristo: treva-luz, pecado-graça, escravidão-libertação, morte-vida. Por ela acontece a presença do Espírito no processo catecumenal: é precursor (vem antes); é acompanhante (está presente a cada momento); é continuador (leva à perfeição). O Espírito Santo está sempre presente na Igreja, realizando nela a comunhão.

A natureza da Igreja é ser querigmática (anunciadora da verdade fundamental, manifestada em Cristo) e ser missionária. Este anúncio deve inserir-se no contexto vital dos que o recebem. A Igreja querigmática e missionária é peregrina, samaritana, misericordiosa; favorece a experiência de fé. A comunidade é ajudada pelo itinerário catecumenal para crescer na fé e ela exerce a função maternal de gerar filhos.

A partir do Vaticano II, a Igreja propõe a experiência catecumenal do RICA = Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, com seus quatro tempos (Pré-catecumenato, Catecumenato, Iluminação – Purificação, Mistagogia), já apresentados em outras mensagens. Na passagem dos tempos acontecem as celebrações. O RICA não é livro catequético, mas litúrgico, com ritos, orações e celebrações. Não serve apenas como ritual para batismo de adultos, mas também para os já batizados, que tiveram uma iniciação insuficiente ou se afastaram da comunidade. A Igreja propõe que se ofereça também processos adaptados de inspiração catecumenal para crianças, adolescentes e jovens. Já existem itinerários adequados para tal. Os processos iniciáticos culminam com a recepção dos sacramentos, que devem revelar unidade. São atos do próprio Cristo na ação ritual da Igreja. É Ele que nos torna cristãos e nos introduz no seio da Trindade e no corpo eclesial.

Capítulo 1 – Um ícone bíblico: Jesus e a Samaritana

Este belo capítulo apresenta o encontro de Jesus com a Samaritana. Convida o leitor a contemplar esse encontro transformador, que ilumina as reflexões sobre a Iniciação à Vida Cristã (IVC):

- Primeiro passo: o encontro - “Dá-me de beber” (Jo 4,7).

- Segundo passo: o diálogo - “Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4,10).

- Terceiro passo: conhecer Jesus - “Quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede” (Jo 4,14).

- Quarto passo: a revelação - “Sou eu, que falo contigo” (Jo 4,26).

- Quinto passo: o anúncio - “Vinde ver... Não será ele o Cristo?” (Jo 4,29).

- Sexto passo: o testemunho - “Nós mesmos ouvimos e sabemos... é o Salvador do mundo” (Jo 4,42).

Capítulo 2 – Aprender da história e da realidade: Ver

O capítulo descreve o processo de IVC ao longo da história, apresenta o caminho que já conseguimos fazer através da publicação de vários documentos importantes sobre a temática. Insiste na urgência de um novo processo de IVC, diante do momento de crise que vivemos neste mundo em mudança. Destaca, com um olhar pastoral, aspectos da realidade que desafiam o anúncio do evangelho. No final, propõe um caminho a ser percorrido neste tempo de conversão pastoral que nos pede gestação permanente, sem nos apegarmos a um único modelo. Apresenta a inspiração catecumenal como uma dinâmica, uma pedagogia, um itinerário mistagógico para a transmissão da fé.

Capítulo 3 – Discernir como Igreja: Iluminar

Este capítulo é o coração do documento. Começa lembrando que a IVC é a articuladora das urgências da ação evangelizadora. Depois, prossegue com uma ampla reflexão sobre a IVC com inspiração catecumenal:

- Iniciação: mergulho pessoal no mistério de Deus (n. 77 a 82).

- Iniciação à vida cristã: mergulho no mistério de Cristo (n. 83 a 87).

- Dimensões teológicas da Iniciação à Vida Cristã (n. 88 a 104).

O capítulo apresenta, ainda, o sujeito indispensável à IVC que é a comunidade cristã, abordando a imersão no mistério de Cristo, mediante a Igreja:

- A Igreja: uma comunidade querigmática e missionária (105 a 111).

- A Igreja: uma comunidade mistagógica e materna (112 a 115).

Na sequência, o capítulo descreve o processo de inspiração exposto no Rica. E, faz uma reflexão sobre os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã. E, conclui afirmando que a vivência cristã é fruto da iniciação.

Capítulo 4 – Propondo caminhos: Agir

É o capítulo que apresenta propostas para um Projeto Diocesano de Iniciação à Vida Cristã. Faz indicações para cada tempo de um processo de inspiração catecumental: Querigma, Catecumenato, Purificação e Iluminação, Mistagogia.

Insiste que o processo precisa de acompanhamento e formação dos agentes da IVC, acentuando a centralidade da Palavra de Deus nesse processo formativo.

O capítulo também trata das instâncias formativas e dos sujeitos da IVC, destacando que a mesma não é tarefa específica da catequese, mas envolve, comunidade, família, liturgia, entre outros.

Na conclusão do documento, os bispos dizem ser urgente construir uma Igreja, casa da Iniciação à Vida Cristã. Para que isso aconteça, é preciso:

a) formação continuada da comunidade, dos ministros ordenados e dos catequistas;

b) compreensão da importância da IVC na ação evangelizadora;

c) valorização da dimensão litúrgica;

d) pastoral de conjunto e projetos pastorais;

e) promoção da unidade dos sacramentos de Iniciação à Vida Cristã;

f) articulação entre o processo de IVC e missão da comunidade eclesial.